Você já ouviu falar na febre maculosa? Embora conhecida popularmente como “doença do carrapato” trata-se de uma infecção séria que, se não identificada e tratada a tempo, pode trazer consequências graves e até mesmo ser fatal.
Neste artigo, vamos conversar sobre tudo o que você precisa saber: desde os primeiros sintomas até como ocorre a transmissão, quais os sinais em cães, o impacto nos humanos e, principalmente, por que o diagnóstico precoce é essencial para salvar vidas.
O que é febre maculosa e como ocorre sua transmissão?
A febre maculosa é uma doença infecciosa causada por bactérias do gênero Rickettsia, sendo a Rickettsia rickettsii a principal espécie associada aos casos graves no Brasil.
Essa bactéria é transmitida ao ser humano por meio da picada de carrapatos infectados, principalmente o carrapato-estrela (Amblyomma cajennense).

Vale destacar que nem todo carrapato transmite a doença. No entanto, aqueles que estiverem infectados com a bactéria são altamente perigosos.
A transmissão ocorre quando o carrapato permanece preso à pele da vítima por algumas horas. A bactéria, então, entra na corrente sanguínea e começa a se multiplicar rapidamente.
Além disso, regiões com vegetação densa, presença de animais silvestres ou onde há circulação de cavalos e capivaras são as mais propensas a abrigar esses carrapatos. Por isso, caminhadas em trilhas, sítios ou regiões rurais requerem atenção redobrada.
Estudos mostram que o tempo médio de incubação da febre maculosa é de 2 a 14 dias após a picada.
Além disso, o risco de morte aumenta significativamente se o tratamento não for iniciado nas primeiras 72 horas após o surgimento dos sintomas.
Qual a diferença da febre maculosa para a doença de Lyme?
Embora tanto a febre maculosa quanto a doença de Lyme sejam doenças transmitidas por carrapatos, elas são completamente diferentes em diversos aspectos.
As diferenças envolvem o agente causador, o tipo de carrapato, os sintomas, a gravidade e a prevalência geográfica.
Por isso, compreender essas distinções é essencial para garantir um diagnóstico preciso e um tratamento eficaz.
1. Agente causador
A febre maculosa é causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, pertencente ao grupo das riquétsias, que afetam principalmente o endotélio (revestimento dos vasos sanguíneos).
Por outro lado, a doença de Lyme é causada pela bactéria Borrelia burgdorferi, um espiroqueta, que afeta o sistema imunológico e pode desencadear inflamações nas articulações, na pele, no sistema nervoso e até mesmo no coração.
2. Carrapatos transmissores
No caso da febre maculosa, o carrapato transmissor mais comum é o carrapato-estrela (Amblyomma cajennense, no Brasil).
Já a doença de Lyme é transmitida por carrapatos do gênero Ixodes, especialmente o Ixodes scapularis, também conhecido como carrapato-de-patas-pretas ou “carrapato do veado”, comum em regiões dos Estados Unidos, Europa e partes da Ásia.
Vale mencionar que a Rickettsia está presente no Brasil, enquanto a Borrelia burgdorferi não é amplamente encontrada no território brasileiro. Apesar disso, alguns casos de doença de Lyme já foram relatados, mas são considerados atípicos.
Como a febre maculosa afeta os humanos?
A febre maculosa, quando afeta humanos, é uma doença grave que pode ter um impacto devastador no organismo se não for tratada a tempo. Como já mencionamos, a bactéria Rickettsia se espalha pelo corpo, atingindo diferentes sistemas e órgãos.
Inicialmente, os sintomas são inespecíficos, como uma gripe forte. No entanto, o verdadeiro perigo reside na capacidade da Rickettsia de afetar os vasos sanguíneos.
A bactéria invade e danifica as células que revestem o interior dos vasos (células endoteliais), causando inflamação e aumento da permeabilidade vascular.
Isso significa que os vasos sanguíneos podem começar a “vazar”, levando a hemorragias e edemas (inchaços) em várias partes do corpo.
É por causa dessa capacidade de causar danos sistêmicos e múltiplos que a febre maculosa é considerada uma emergência médica. A taxa de letalidade da doença no Brasil é alarmante, podendo ultrapassar os 50% em casos não tratados ou diagnosticados tardiamente.
Quais sintomas tem a febre maculosa?
Reconhecer os sintomas da febre maculosa é o primeiro passo para um diagnóstico precoce e eficaz.
No entanto, o desafio é que os sinais iniciais muitas vezes são bem parecidos com os de outras doenças comuns, como a gripe, o que pode atrasar a busca por atendimento médico.
Geralmente, os primeiros sintomas surgem de 2 a 14 dias após a picada do carrapato infectado, período que chamamos de incubação.
Os mais comuns incluem:
- Febre alta: É um dos sinais mais constantes e costuma ser o primeiro a aparecer.
- Dor de cabeça intensa: Não é uma dor de cabeça comum, mas sim uma cefaleia forte e persistente.
- Dores musculares (mialgia) e articulares (artralgia): O corpo todo pode doer, dificultando movimentos simples.
- Mal-estar geral: Sensação de cansaço extremo e indisposição.
- Calafrios: Episódios de tremores intensos.
Com a evolução da doença, outros sintomas podem surgir, e é aqui que a febre maculosa começa a mostrar sua “verdadeira face”.
Em casos mais avançados, sem o tratamento adequado, a doença pode evoluir para quadros graves, afetando diversos órgãos e sistemas. Entre as complicações mais sérias, podemos citar:
- Edema (inchaço): Principalmente nas mãos e pés, e pode ser um sinal de comprometimento vascular.
- Náuseas, vômitos e diarreia: Sintomas gastrointestinais que podem levar à desidratação.
- Confusão mental: Em casos mais graves, o paciente pode apresentar desorientação ou alterações neurológicas.
- Comprometimento renal e pulmonar: A falência desses órgãos pode ocorrer em estágios avançados da doença.
- Hemorragias: Podem surgir em diversos pontos do corpo, indicando um quadro crítico.
Devido à inespecificidade dos sintomas iniciais, é fundamental que, ao sentir qualquer um desses sinais, principalmente se você esteve em áreas de risco ou teve contato com carrapatos, procure um médico imediatamente e informe sobre a possível exposição.
A febre maculosa tem cura?
Sim, a febre maculosa tem cura, mas essa afirmação vem com uma condição essencial: o tratamento precisa ser iniciado o mais rápido possível. A rapidez é a chave para a recuperação completa e para evitar as complicações graves que a doença pode causar.
O tratamento da febre maculosa é feito com antibióticos específicos, sendo a doxiciclina a medicação de escolha.
A terapia com doxiciclina deve ser iniciada assim que houver a suspeita clínica da doença, mesmo antes da confirmação laboratorial. Por quê?
Porque esperar pelos resultados dos exames pode levar dias preciosos, e cada hora de atraso no tratamento aumenta o risco de complicações e de óbito.
Os testes laboratoriais para confirmar a febre maculosa podem ser demorados, e a decisão de tratar é, muitas vezes, baseada na história clínica do paciente, na exposição a áreas de risco e na presença dos sintomas característicos.
O período de tratamento geralmente dura de 7 a 14 dias, ou até 3 dias após o desaparecimento da febre, sempre sob orientação e supervisão médica.
É crucial que o paciente complete todo o ciclo do antibiótico, mesmo que os sintomas melhorem antes, para garantir a erradicação completa da bactéria e evitar recaídas.
Em muitos casos, se o tratamento é iniciado nos primeiros dias do aparecimento dos sintomas, a recuperação é total e sem sequelas.
No entanto, se houver demora, as complicações podem ser extensas e irreversíveis, incluindo danos a órgãos vitais, como rins, pulmões e sistema nervoso central.
Febre maculosa é a mesma doença do carrapato que afeta os cães?
É uma pergunta muito comum, e a resposta é importante para entendermos a dinâmica da febre maculosa.
Primeiramente, é fundamental esclarecer que a febre maculosa em cães não é a mesma doença que afeta os humanos, embora o vetor (o carrapato) seja o mesmo em algumas situações.
Os cães podem ser hospedeiros de carrapatos que transmitem outras doenças, como a Erliquiose e a Babesiose, que são comumente chamadas de “doença do carrapato” no contexto veterinário.
No entanto, quando falamos especificamente da febre maculosa (causada pela Rickettsia rickettsii no Brasil, ou outras espécies em outras regiões), os cães têm um papel diferente.
Eles não desenvolvem a febre maculosa da mesma forma que os humanos e, geralmente, não ficam doentes com a Rickettsia rickettsii. Contudo, os cães podem atuar como carreadores de carrapatos infectados.
Isso significa que um cão que passeia em uma área com carrapatos pode trazer esses vetores para dentro de casa, aumentando o risco de transmissão para os humanos da família.
Portanto, embora seu cachorro não vá desenvolver a febre maculosa causada pela Rickettsia rickettsii (a mesma que nos afeta), ele é um elo importante na cadeia de transmissão.
É por essa razão que o controle de carrapatos em animais domésticos é uma medida crucial de prevenção para a saúde humana.
Manter seu pet livre de carrapatos com o uso regular de produtos carrapaticidas e inspeções periódicas é uma forma de proteger não só ele, mas toda a sua família.
Como prevenir a doença do carrapato?
Felizmente, a prevenção é possível e altamente eficaz. Confira as principais medidas:
Evite áreas de risco: locais com vegetação alta, cavalos ou capivaras devem ser evitados.
Use roupas adequadas: opte por calças compridas, blusas de manga longa e botas em trilhas ou áreas rurais.
Aplique repelentes: prefira os que oferecem proteção contra carrapatos, como os que contêm DEET.
Faça inspeções corporais: após passeios, examine todo o corpo, inclusive nas dobras da pele.
Proteja seus pets: use produtos antiparasitários e mantenha o controle ambiental em dia.
Diagnóstico precoce salva vidas
Não há como reforçar demais: a febre maculosa é uma emergência médica. Se você esteve em áreas de risco e apresentar sintomas como febre alta, dores no corpo ou manchas na pele, procure imediatamente um serviço de saúde.
O atraso no início do tratamento pode ser fatal. Muitas mortes ocorrem justamente porque o diagnóstico não foi feito a tempo ou o tratamento foi iniciado tardiamente.
Portanto, falar sobre essa doença, informar a população e capacitar profissionais de saúde são atitudes fundamentais para reduzir os casos graves e salvar vidas.
Perguntas Frequentes (FAQ)
1. Todo carrapato transmite febre maculosa?
Não. Apenas os carrapatos infectados com a bactéria Rickettsia rickettsii podem transmitir a febre maculosa.
2. Existe vacina contra a febre maculosa?
Não há vacina disponível. Sendo assim, a melhor forma de prevenção é evitar o contato com carrapatos e iniciar o tratamento assim que houver suspeita.
3. A febre maculosa passa de pessoa para pessoa?
Não. A transmissão acontece exclusivamente por meio da picada de carrapatos infectados. Não há contágio entre humanos.
4. É possível identificar a picada do carrapato?
Nem sempre. Muitas vezes, a picada é indolor e passa despercebida. Por isso, é essencial inspecionar o corpo após estar em áreas de risco.
5. Meu cachorro pode me transmitir a doença do carrapato?
Não diretamente. No entanto, ele pode carregar carrapatos infectados que, ao entrar em contato com humanos, podem transmitir a bactéria.