Você já ouviu falar em Síndrome Nefrótica? Esse termo pode soar complicado, mas entender o que ele significa é essencial para identificar problemas renais precocemente.
Inchaço persistente nos olhos, tornozelos, fadiga inexplicável, podem ser sinais que seu corpo esteja enviando um sinal de alerta.
Embora muitos fatores possam causar esses sintomas, um deles, menos conhecido, mas bastante significativo, é a Síndrome Nefrótica.
Esta condição renal pode parecer um nome complicado, mas, na verdade, é um conjunto de sinais e sintomas que indicam que algo não vai bem com os rins, órgãos vitais para a nossa saúde.
Neste artigo, vamos desvendar a Síndrome Nefrótica, explicando o que ela realmente significa, quais são os sintomas que você deve ficar de olho, o que a causa e, claro, como ela é tratada para que você possa entender melhor essa condição e buscar ajuda se for necessário. Afinal, a informação é o primeiro passo para o cuidado.
O que é Síndrome Nefrótica?

A Síndrome Nefrótica não é uma doença única, mas sim uma síndrome, o que significa que é um conjunto de sinais e sintomas que ocorrem juntos e indicam uma condição subjacente.
Essencialmente, ela surge quando os glomérulos, que são pequenos filtros dentro dos seus rins, ficam danificados.
Pense nos seus rins como uma peneira muito fina que filtra o sangue, removendo resíduos e o excesso de água, enquanto retém proteínas importantes, como a albumina.
Quando essa peneira está comprometida, as proteínas que deveriam permanecer no sangue acabam ‘vazando’ para a urina.
Consequentemente, o corpo perde proteínas importantes como a albumina, o que desencadeia uma série de eventos, resultando nos sintomas característicos da síndrome, como inchaços, alterações nos níveis de colesterol e grande quantidade de proteínas na urina.
Sintomas da Síndrome Nefrótica

Agora, você deve estar se perguntando: quais são os sintomas mais comuns da Síndrome Nefrótica?
Vamos detalhar para que você consiga reconhecer:
Edema (inchaço): principalmente nas pernas, pés e tornozelos. Pode ocorrer também na região abdominal e ao redor dos olhos.
Proteinúria maciça: perda de proteína na urina superior a 3,5g por dia.
Hipoalbuminemia: queda do nível de albumina no sangue devido à perda urinária.
Hiperlipidemia: aumento dos níveis de colesterol e triglicerídeos.
Urina espumosa: devido à grande quantidade de proteínas eliminadas.
Fadiga e mal-estar: comuns pela perda proteica e sobrecarga do organismo.
Esses sinais costumam surgir de forma gradual, mas merecem atenção imediata. Caso perceba inchaços persistentes, consulte seu médico para avaliação.
O que pode causar a Síndrome Nefrótica?
A Síndrome Nefrótica pode se manifestar de diversas formas, e suas causas são variadas. É fundamental entender que ela pode ser tanto uma condição primária, significando que o problema se origina diretamente nos rins, quanto secundária, ou seja, é uma consequência de outra doença que afeta o corpo.
Causas Primárias da Síndrome Nefrótica:
Nesses casos, a lesão nos glomérulos dos rins ocorre sem uma causa aparente em outro lugar do corpo. As causas primárias mais comuns incluem:
- Doença de Lesões Mínimas (DLM): Esta é a causa mais frequente de Síndrome Nefrótica em crianças e, ocasionalmente, em adultos. Apesar do nome, que sugere “lesões mínimas”, sob um microscópio comum, os rins parecem normais. No entanto, em um nível mais detalhado (microscopia eletrônica), percebe-se um problema nas células que revestem os glomérulos (os podócitos).
- Glomeruloesclerose Segmentar e Focal (GESF): Esta condição é uma das causas mais comuns de Síndrome Nefrótica em adultos e também pode afetar crianças. Nela, algumas partes dos glomérulos desenvolvem cicatrizes (esclerose), prejudicando sua capacidade de filtrar o sangue. A GESF pode ser idiopática (sem causa conhecida) ou secundária a outras condições.
- Glomerulonefrite Membranosa: Mais comum em adultos, essa condição ocorre quando o sistema imunológico ataca a membrana basal glomerular, uma parte importante dos filtros renais, causando o espessamento dessa membrana e o vazamento de proteínas.
- Glomerulonefrite Membranoproliferativa (GNMP): Esta é uma forma mais rara de glomerulonefrite que causa inflamação e danos aos glomérulos. Pode ter diferentes subtipos e ser primária ou secundária.
Causas secundárias da Síndrome Nefrótica:
Nestes casos, a Síndrome Nefrótica surge como uma complicação ou manifestação de outra doença que já afeta o organismo.
As causas secundárias são variadas e podem incluir:
- Diabetes Mellitus: O diabetes é uma das principais causas de doença renal crônica e, consequentemente, de Síndrome Nefrótica em adultos. Informações detalhadas sobre a relação entre diabetes e doença renal podem ser encontradas na Sociedade Brasileira de Diabetes.
- Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES): Esta é uma doença autoimune crônica na qual o sistema imunológico ataca os próprios tecidos do corpo, incluindo os rins. A nefrite lúpica, uma complicação renal do lúpus, pode levar à Síndrome Nefrótica. O Ministério da Saúde do Brasil oferece informações importantes sobre o lúpus.
- Amiloidose: Uma condição rara onde proteínas anormais (amiloide) se acumulam em órgãos, incluindo os rins, prejudicando sua função.
- Infecções: Certas infecções, como hepatite B, hepatite C, HIV e malária, podem desencadear uma resposta imunológica que danifica os rins e leva à Síndrome Nefrótica.
- Câncer: Alguns tipos de câncer, como linfoma e leucemia, podem estar associados ao desenvolvimento de Síndrome Nefrótica.
- Uso de Certos Medicamentos: Embora menos comum, alguns medicamentos, como anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) ou certos antibióticos, podem, em casos raros, induzir uma lesão renal que leva à síndrome.
Como diagnosticar a Síndrome Nefrótica?
O diagnóstico da Síndrome Nefrótica geralmente começa com a suspeita clínica, baseada nos sintomas que o paciente apresenta, especialmente o inchaço.
No entanto, para confirmar a condição e entender sua causa, o médico solicitará uma série de exames específicos. Veja quais os exames mais comuns no processo diagnóstico:
1. Histórico clínico e exame físico:
O médico vai conversar com você sobre seus sintomas, quando eles começaram, se há histórico familiar de doenças renais ou outras condições médicas.
Durante o exame físico, então, ele provavelmente vai procurar por sinais de edema (inchaço), especialmente ao redor dos olhos, nos tornozelos e nas pernas.
2. Exames de urina:
- Exame de Urina Tipo 1 (Urina Rotina): Este exame básico pode mostrar a presença de grande quantidade de proteínas na urina (proteinúria), que é um dos principais indicadores. Além disso, também pode detectar a presença de gordura (lipidúria) ou células anormais.
- Coleta de Urina de 24 Horas: Este é o exame mais importante para confirmar a proteinúria maciça. Você vai coletar toda a urina produzida em um período de 24 horas. Posteriormente, a quantidade de proteína perdida na urina será quantificada.
3. Exames de sangue:
- Albumina Sérica: Mede a quantidade de albumina no seu sangue. Níveis baixos (hipoalbuminemia) são um critério diagnóstico chave.
- Colesterol e Triglicerídeos: Geralmente, estão elevados na Síndrome Nefrótica (hiperlipidemia).
- Creatinina e Ureia: Avaliam a função renal. Embora os níveis possam estar normais no início da Síndrome Nefrótica, eles podem se elevar se a função renal estiver comprometida.
- Eletrólitos: Verificam os níveis de sódio, potássio e outros minerais, que podem ser afetados.
- Proteínas Totais e Eletroforese de Proteínas: Podem fornecer informações sobre o perfil das proteínas no sangue.
- Outros Exames para Identificar a Causa Subjacente: Por fim, se a causa da Síndrome Nefrótica não for clara, o médico pode solicitar exames adicionais para investigar doenças secundárias, como testes para diabetes (glicemia, hemoglobina glicada), exames para lúpus (anticorpos antinucleares – FAN), testes para hepatites, HIV, entre outros.
4. Biópsia renal:
Este é um procedimento mais invasivo, mas frequentemente essencial para determinar a causa exata da Síndrome Nefrótica, especialmente em adultos.
Nesse procedimento, o médico remove uma pequena amostra de tecido do rim, que é então examinada sob um microscópio por um patologista.
É importante ressaltar que em crianças com doença de lesões mínimas, a biópsia nem sempre é necessária, pois a resposta ao corticoide costuma ser boa e rápida.
Já em adultos, por outro lado, ela é frequentemente indicada para definição do diagnóstico etiológico.
Em suma, a combinação desses exames permite ao médico não apenas confirmar o diagnóstico de Síndrome Nefrótica, mas também investigar a causa subjacente, o que é um passo fundamental para um plano de tratamento eficaz.
Qual a tríade da Síndrome Nefrótica?
A tríade clássica da síndrome nefrótica inclui:
- Proteinúria maciça (>3,5 g/dia)
- Hipoalbuminemia (<3 g/dL)
- Edema generalizado
Além dessa tríade, é válido mencionar que a hiperlipidemia é considerada um achado comum e importante para fechar o diagnóstico sindrômico.
Tratamento eficaz para Síndrome Nefrótica
O tratamento da Síndrome Nefrótica é multifacetado e visa, principalmente, dois objetivos: aliviar os sintomas e tratar a causa subjacente da doença.
É importante lembrar, contudo, que o tratamento é individualizado e depende muito do que está causando a síndrome, da idade do paciente e da gravidade dos sintomas.
1. Tratamento da causa subjacente:
Este é o ponto mais crucial. Se, porventura, a Síndrome Nefrótica é secundária a outra doença (como diabetes, lúpus ou infecções), o tratamento dessa doença principal é fundamental para controlar a condição renal. Por exemplo:
- Diabetes: Controle rigoroso da glicemia com dieta, exercícios e medicamentos.
- Lúpus: Uso de imunossupressores para controlar a atividade da doença autoimune.
- Infecções: Tratamento da infecção específica.
2. Tratamento para aliviar os sintomas e reduzir a perda de proteínas:
Mesmo quando a causa é primária ou enquanto a causa secundária está sendo tratada, medidas específicas são tomadas para gerenciar os sintomas e proteger os rins.
- Corticosteroides: Medicamentos como a prednisona são frequentemente a primeira linha de tratamento, especialmente na Doença de Lesões Mínimas e em algumas formas de GESF. Eles agem suprimindo o sistema imunológico, o que ajuda a reduzir a inflamação nos glomérulos e diminuir o vazamento de proteínas.
- Outros Imunossupressores: Se, por acaso, os corticosteroides não forem eficazes ou se houver recorrência da síndrome, o médico pode prescrever outros medicamentos imunossupressores, como ciclosporina, tacrolimus, micofenolato de mofetila ou ciclofosfamida. Esses medicamentos também atuam modulando a resposta imune.
- Diuréticos: São medicamentos que ajudam o corpo a eliminar o excesso de líquido, aliviando o inchaço (edema). No entanto, é importante usá-los com cautela e sob supervisão médica para evitar desidratação ou desequilíbrio eletrolítico.
- Inibidores da ECA (IECA) ou Bloqueadores dos Receptores de Angiotensina (BRA): Esses medicamentos são fundamentais para reduzir a perda de proteínas na urina e também para controlar a pressão arterial, que pode estar elevada. Além disso, eles têm um efeito protetor nos rins.
- Medicamentos para Reduzir o Colesterol: Como a Síndrome Nefrótica frequentemente causa aumento dos níveis de colesterol e triglicerídeos, medicamentos como as estatinas podem ser prescritos para diminuir o risco cardiovascular.
- Anticoagulantes: Pacientes com Síndrome Nefrótica têm um risco aumentado de desenvolver coágulos sanguíneos (trombose) devido à perda de proteínas anticoagulantes na urina. Em alguns casos, especialmente se o risco for alto, o médico pode prescrever anticoagulantes.
3. Medidas de suporte e mudanças no estilo de vida:
- Dieta:
- Restrição de Sódio: É essencial para controlar o inchaço e a pressão arterial.
- Controle da Ingestão de Proteínas: Embora a perda de proteínas na urina seja um problema, uma dieta com quantidade adequada de proteínas, sem excessos, é geralmente recomendada, a fim de não sobrecarregar os rins. Contudo, é crucial que essa recomendação seja feita por um nutricionista em conjunto com o nefrologista.
- Controle de Líquidos: A ingestão de líquidos pode precisar ser ajustada, especialmente se houver inchaço significativo.
- Monitoramento: O acompanhamento regular com o médico, realizando exames de urina e sangue, é vital para monitorar a resposta ao tratamento, ajustar a medicação e identificar possíveis complicações.
4. Cuidados a longo prazo:
A Síndrome Nefrótica pode ser uma condição crônica em muitos casos, exigindo, portanto, monitoramento e manejo contínuos.
O objetivo é manter a doença em remissão (sem sintomas) e proteger a função renal a longo prazo para evitar a progressão para a Doença Renal Aguda (DRA) e, em casos mais graves, a Doença Renal Crônica (DRC), que pode exigir diálise ou transplante renal.
Saiba mais em: Doenças Renais: Causas, sintomas, tratamentos e prevenção
Viver com Síndrome Nefrótica exige paciência e adesão ao tratamento. No entanto, com o diagnóstico precoce e um plano de tratamento adequado, muitas pessoas conseguem controlar a condição e levar uma vida plena.
Quando procurar um médico?
Sempre que perceber:
- Inchaço persistente em pés, tornozelos ou rosto
- Urina muito espumosa
- Ganho de peso rápido sem explicação
- Fadiga excessiva
Nesses casos, procure imediatamente um médico nefrologista ou clínico geral. Somente um profissional, afinal, poderá avaliar seus exames, diagnosticar corretamente e definir o melhor tratamento para proteger sua função renal.
Perguntas Frequentes (FAQ) sobre Síndrome Nefrótica
Para ajudar a clarear as dúvidas mais comuns sobre a Síndrome Nefrótica, reunimos algumas perguntas e respostas importantes:
1. Síndrome Nefrótica tem cura?
A “cura” da Síndrome Nefrótica depende da causa subjacente. Em alguns casos, especialmente a Doença de Lesões Mínimas em crianças, a remissão completa (desaparecimento dos sintomas e normalização dos exames) é possível com o tratamento.
Em outras causas, no entanto, o objetivo é controlar a doença e manter os rins funcionando o melhor possível, evitando a progressão para a doença renal crônica terminal.
2. Qual a diferença entre Síndrome Nefrótica e Síndrome Nefrítica?
A principal diferença está na natureza do dano renal e nos sintomas. A Síndrome Nefrótica é caracterizada por grande perda de proteína na urina, resultando, assim, em inchaço e baixa albumina no sangue.
Já a Síndrome Nefrítica, por outro lado, é marcada por inflamação dos glomérulos, levando, por conseguinte, à presença de sangue na urina (hematúria), proteinúria (geralmente menos grave que na nefrótica), pressão alta e, às vezes, diminuição da produção de urina.
3. Posso praticar exercícios físicos se tenho Síndrome Nefrótica?
Em geral, sim, exercícios físicos são recomendados para a saúde geral. No entanto, a intensidade e o tipo de exercício podem precisar ser ajustados, especialmente se houver inchaço significativo ou fadiga.
Portanto, é fundamental conversar com seu médico antes de iniciar ou modificar qualquer rotina de exercícios.
4. Por que o colesterol e os triglicerídeos ficam altos na Síndrome Nefrótica?
Quando há uma grande perda de proteínas na urina, o fígado tenta compensar essa perda aumentando a produção de proteínas, incluindo as lipoproteínas, que transportam o colesterol e os triglicerídeos. Isso, então, leva ao aumento dos níveis dessas gorduras no sangue.
5. A Síndrome Nefrótica pode levar à diálise?
Depende. Se, por ventura, a doença não for controlada e a função renal se deteriorar progressivamente, a Síndrome Nefrótica pode levar à Doença Renal Crônica Terminal, que exige terapia renal substitutiva, como a diálise ou o transplante renal. O objetivo do tratamento é justamente evitar ou retardar essa progressão.
6. Síndrome Nefrótica é grave?
Pode ser grave se não tratada, levando à insuficiência renal crônica ou complicações como trombose.
7. Crianças podem ter Síndrome Nefrótica?
Sim, crianças podem ter Síndrome Nefrótica e, na verdade, a Doença de Lesões Mínimas é a causa mais comum de Síndrome Nefrótica na infância. Geralmente, as crianças respondem bem ao tratamento com corticoides.
8. A dieta ajuda no tratamento?
Sim. Dieta com restrição de sódio e ajuste proteico auxilia no controle dos sintomas e preservação da função renal.
9. O que causa urina espumosa na Síndrome Nefrótica?
A perda excessiva de proteínas pela urina deixa-a com aspecto espumoso.